Inquieto, constato que sou dependente das expectativas que a minha alma acolhe, e que os sonhos que persigo me exaurem e não raramente, são inóspitos, mas, assim mesmo entorpecem-me a consciência e maculam a paz que careço.
Vivo crendo que
posso modificar a trajetória das contingências, que consigo blindar-me dos
percalços, da maldade, do maldoso, e de que serei capaz de sobrepor à crueza
existencial, burlando o insólito. Sim, eu creio na onipotência! A minha.
Contudo, a todo
o momento estou em esquinas tendo de escolher direções. Sem onisciência, são
nesses instantes de escolhas que a estrada larga poderá me levar à sarjeta, que
o atalho pode ter potencial de abismo, e a avenida iluminada não me é garantia
de segurança.
Ao encarar a
vida como uma batalha, a fadiga não me dá trégua. Tenho confiado demais na força
do meu braço de carne para ordenar meus destinos. Superestimo a capacidade que
estimo possuir, e sigo arranhando a alma acreditando ser possível blindar o
corpo.
Por agora, aproprio-me
de um sentimento emanado do grande poeta: “...quanto tempo do meu passado foi
só a vida mentida de um futuro imaginado... Que fiz de mim? Encontrei-me quando
estava já perdido...[?]”.
Vejo-me numa
arena barulhenta clamando pelo Teu colo. Sinto-me castigado e ferido pelo tempo,
e ainda sou atormentado com o fantasma do ‘nunca mais!’. “Ainda assim, aqui dentro
sou favorável à Tua lei, mesmo que outra esteja combatendo àquela que o meu
interior aprova”.
Eis a causa dos
ossos esmagados, eis a nascente das dores que agora sinto. “Ah essa minha
natureza, que de tão humana, deixa de fazer o bem que quer, para exercer o mal
que não quer! Quando é que dela Tu me livrarás?”
Por vezes ouço
Teus sussurros, neles, a sensação de que Tu enxergas e não rejeitas a minha [contínua]
contrição; deles, o sonido “a minha graça é tudo o que você precisa, pois o meu
poder é mais forte quando você está fraco.”
Acalmado, pois,
anseio despojar-me da pretensão de ser conquistador de utopias, e com menos
arroubos, anelo recuperar parte dos anos que caminhei em círculos, e entender que
os castigos e as feridas já não mais pairam sobre mim, porquanto, por causa de
Ti, posso ter paz.