Seja...Triste, mas não amargo. Introspectivo, mas não solitário. Crítico, mas não azedo. Cético, mas não cínico. Complicado, mas não intolerável. Sincero, mas não inconveniente. Veemente, mas não agressivo. Alegre, mas não leviano. Grave, mas não iracundo. (Ricardo Gondim)

domingo, 20 de setembro de 2009

RESTA-ME



Salvo do naufrágio,
Agora ando exilado em mim.
Buscando o que não perdi,
Encontrando o que nem sei.

Respiro uma vida, enquanto aspiro outra;
Dividido entre elas, não inspiro nenhuma.
Mantido só pela razão,
Temo e não arrisco nada.

Crio fórmulas sem formas,
Componho músicas sem letras.
Ao medir-me, constato limites,
Reconheço que pouco me conheço.

Também não entendo o que se passa,
Tampouco, em tudo consinto.
Resta-me a esperança que ainda tenho em Ti,
Resta-me o conforto que ainda vem de Ti.

por Magno Ribeiro em 20/9/2009 às 5:00h

sexta-feira, 31 de julho de 2009

ENTRE PLANOS


Entre o plano “A” que feneceu,
E o “B” que não é meu,
Por vezes me enxergo regando inférteis,
Cultivando vazios,
Ausentando-me da sensatez.

As muitas lacunas do agora,
De tempos em tempos,
Ofuscam o olhar daquilo que haverá de haver no horizonte.
Daí, meus anseios de tão ansiosos,
Lutam para que eu ceda, retroceda.

Ainda convalescendo,
Reconheço e confesso a pequinesa da minha fé.
É neste exato instante que, milagrosamente,
Sou chacoalhado pelo dono do plano “B”, e ouço:
“Coragem! Sou eu! Não tenha medo!”


por Magno Ribeiro em 31/7/2009 às 05h20min.

sábado, 4 de julho de 2009

Oscilações


Agora lúcido,
Logo mais, confuso.
Alterno lucidez e confusão,
Meio que consentindo uma esperança volátil.

Neste quase é,
Deste pode ser,
Alimento o nascer de ansiedades,
E o renascer das velhas angústias.

Se ao menos restasse lúcido ou confuso de vez!
Mas não; vivo neste estar entre.
Entre humores e temores, rumores e dissabores;
Oscilo a todo instante.

Os sonhos ainda acordam divididos;
Uns refletem findo o horror,
Outros projetam pesadelos, mesmo que sem terror.
Quisera que estes outros, jamais sejam reais!

Ainda trago comigo parte do que recuso.
Talvez por isto a sensação de arrepio,
O asco do antigo, o receio do novo;
Talvez por isto, oscilo em oscilações.

Quem diria que eu me desacolhesse tanto!
Mas, tenho de dar as costas para o saldo de trevas,
Voltar-me para frente, ou melhor, para cima onde amanhece,
E incitar de vez este coração contrito.

por Magno Ribeiro em 4/7/2009 às 21h05min.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

LABIRINTO


Atropelos e ideais insidiosos,
Levaram-me a desterros e desertos,
Ilhas e trilhas.

Muros se fechavam ou bifurcavam-se;
Adiante, multiplicavam-se em novos muros.
Era o círculo vicioso de alamedas estreitas e sombrias.

Crendo caminhar por atalhos,
Vi-me metido nas entranhas de um labirinto,
Recomeçando sempre que imaginava terminar.

Rodeado de certezas, quase sempre incertas,
Tornei-me papel em branco,
Sem linhas, sem tintas, sem textos.

Fui dor e doente,
Abastado e miserável,
Primeiro indicio, depois alvo.

Emparedado, sem horizonte,
Verticalizei ao erguer o olhar,
Até enxergar focos de luz.

Arfando, sôfrego, indeciso e lerdo,
Contornei as próximas esquinas,
Até que dei de cara com a saída.

Estancada, a vida pegou no tranco.
E do final daquilo que seria o fim,
Despontou o início do recomeço.

Daquele foco de luz, surgiram contextos,
Apareceram tintas, letras sobrevieram,
Palavras têm se formado; acenam-se os textos.


por Magno Ribeiro em 1/7/2009 às 20h33min.

terça-feira, 9 de junho de 2009

MEU EU E EU


Envolveste-me com tamanha sutileza,
Que por épocas sequer percebi.
Agi como um tolo,
E em tolo me tornei.
Segui por incontáveis caminhos, todos teus,
Deixei-me ser levado por tuas quimeras,
Não pensei na dor,
Mas seria óbvio que viria.
Despercebido protegi-te,
Enquanto desprotegia-me.
Não obedeci aos sinais,
Fui ultrapassando todos os limites;
Veloz, não foi possível parar sem me machucar.
Que insensatez!
Quanta estupidez!

Felizmente você, meu eu,
Já não mais tem absoluto influxo sobre nossa vida.
Tuas palavras já não me embebedam nos primeiros goles,
Seria preciso alto teor para tanto,
Seria preciso mais que um dia,
Entretanto, vivo só por hoje.
O amanhã não mais a mim pertence,
Tampouco a ti.
Quando acordo, já não é você quem procuro,
E como não te procuro, me encontro.
Encontro-me, mas não em mim,
Alcancei enorme graça,
Fui perdoado e me perdoei.
Que alívio!
Quanta sorte!




Por Magno Ribeiro em 9/6/2009 às 22h34m.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

FASES DO OLHAR


Olho para trás!
Não creio no que vejo.
Preciso crer!
Abaixo a cabeça,
Preciso erguer!
Nada fácil, mas preciso.
Quando sem forças,
Não entrevi sobrevivência,
Ainda assim tive que sobreviver!
Sem o sorriso é bem verdade,
Ele se foi, respeitou o momento.
Envergonhado com o que vi, decidi,
Somente regressaria verdadeiro.

Olho para cima!
Vejo o que não cria.
Preciso de socorro!
Levanto a cabeça,
Tenho de curvar!
Não mereço, careço.
De Ti logo me veio toda força,
E do Teu existir,
Minha nova existência!
Até a sorte, restaurada,
Invadiu o tempo presente.
Enquanto que o sorriso, escancarado,
Retornou dando conta de um futuro bom.

Olho para frente!
Mesmo sem ver, creio.
Confiar é preciso!
Ergo meu olhar,
Tenho de enxergar!
O Teu tempo, meu tempo será.
Se é desejo Teu me tornar ouro,
Aceito o fogo,
Me darás resistência!
O porquê, já não mais importa,
Acredito no Teu ‘tende bom ânimo’.
E seja para onde for à direção do meu olhar,
O Teu, estará em mim até o instante final de meu dia último.




por Magno Ribeiro em 24/5/2009 às 14h43min.

sábado, 23 de maio de 2009

FUTURO DO PRESENTE


Quisera poder reviver o que deixei de viver,
Andar pelos caminhos que os descaminhos me afastaram.
Quisera poder regressar a minha forma primária,
Apreciar a poesia de ser jovem, curtir as insônias,
Aprender a comer legumes e balancear os sabores do meu paladar.
Diante de absoluta impotência, o existir do meu presente,
Somente me é suportável pela onipresença do Criador.

Quem dera tivesse eu a ciência do futuro!
A frustração do passado teria sido evitada,
E os desacertos eliminados.
Mas, só a utopia faz-me desejar a prerrogativa do Supremo,
Que o bom senso me assegura ser inalcançável.
Nada a fazer, se o passado no passado,
Nem mesmo a onipotência divina se propõe recria-lo.

Pudera essa sensação contínua de ter deixado de se viver algo,
Afinal, o presente se tornará passado no próximo instante.
Resta-me vislumbrar o futuro,
Projetado pelos meus sonhos,
Ainda que imperceptível, inaudível e em parte intangível.
Contudo, o futuro do presente,
Não me pertence, repousa na onisciência de quem me criou.




por Magno Ribeiro em 23/5/2009 às 18h48min.